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David não sabia como ela se sentiria a seu respeito. Queria descobrir, mas tinha medo. Josephine tinha razões suficientes para odiá-lo. Ao saber da morte de sua mãe, fora ao funeral apenas para vê-la. Quando a avistou, percebeu que nada havia mudado. Não para ele. Num instante os anos se dissiparam e ele se viu tão apaixonado quanto antes.

"Quero falar com você... encontre-me esta noite..."

"Está bem. David..."

"No lago."

Cissy virou-se ao vê-lo observando-a pelo espelho alto.

─ É melhor apressar-se e trocar de roupa, David. Vamos nos atrasar.

─ Vou encontrar-me com Josephine. Se ainda me quiser, casarei com ela. Acho que já é tempo de pôr um fim nessa farsa, você concorda?

Ela ficou parada, olhando para David, sua imagem despida refletida no espelho.

─ Deixe eu me vestir.

David assentiu e saiu do quarto. Foi para a ampla sala de visitas, andando de um lado para outro, preparando-se para o confronto. Lógico que, após todos esses anos, Cissy não quereria se agarrar a um casamento que não passava de aparência. Ele estava pronto para dar-lhe tudo que ela...

David ouviu o carro de Cissy sendo ligado e em seguida o ranger dos pneus em sua arrancada em direção à rua. Ele correu para a porta da frente e olhou: o Maserati de Cissy voava para a estrada. David correu para seu próprio carro e acelerou atrás dela.

Ao atingir a estrada, viu o carro dela desaparecendo ao longe. Pressionou o acelerador com força. O Maserati era mais rápido que o Rolls de David. Pisou com mais e mais força: setenta... oitenta... noventa. O carro dela desaparecera ao longe.

David atingiu o topo de uma pequena elevação e o avistou, como um brinquedo distante, inclinando-se numa curva. O carro derrapava para o lado enquanto os pneus lutavam para manter-se colados ao leito da estrada. O Maserati oscilou para a frente e para trás, perdendo a direção na estrada. Então se aprumou e transpôs a curva. E de repente foi de encontro ao acostamento, lançou-se no ar, capotando várias vezes sobre os campos.

David arrastou Cissy, inconsciente, para fora do carro momentos antes que o tanque de gasolina explodisse.

Eram seis horas da manhã seguinte quando o cirurgião-chefe saiu da sala de operações e disse a David:

─ Ela vai sobreviver.

Jill chegou ao lago pouco antes de o sol se pôr. Levou o carro até bem perto da água. Desligando o motor, ficou escutando os ruídos do vento e aspirou o ar do lugar. "Não me lembro de quando estive tão feliz", pensou. Mas corrigiu-se em seguida: "Lembro sim. Foi aqui. Com David.". Recordou a sensação do corpo dele no seu e sentiu-se tonta de desejo. Qualquer que fosse o motivo que lhes destruíra a felicidade, já não existia mais. Sentira-o no momento em que vira David. Ele ainda a amava. Jill o sabia.

Contemplou o sol, rubro como sangue, mergulhando lentamente nas águas ao longe e a chegada da escuridão. Desejou que David chegasse logo.

Passou-se uma hora, depois duas e o ar ficou gelado. Jill ficou no carro, quieta. Observou a enorme lua branca flutuando no céu, ouviu os sons da noite à sua volta e disse a si mesma: "David está chegando".

Esperou a noite inteira e pela manhã, quando o sol começou a atingir o horizonte, ligou o carro e partiu para Hollywood.

24

Jill sentou-se diante da penteadeira e estudou seu rosto no espelho. Notou uma ruga quase invisível no canto do olho e fez uma careta. "É injusto", pensou. "O homem pode relaxar completamente, ficar grisalho, criar barriga e ter o rosto vincado como um mapa rodoviário e ninguém acha nada de mais. Mas se a mulher aparece com uma minúscula ruga..." Começou a aplicar a maquilagem. Bob Schiffer, o maior maquilador de Hollywood, ensinara-lhe algumas de suas técnicas. Jill passou uma base cremosa, em vez do pó que usava antigamente; a base em pó resseca a pele, enquanto a cremosa conserva a umidade. Em seguida concentrou-se nos olhos, usando sob as pálpebras inferiores uma maquilagem três ou quatro tons mais clara que a outra para atenuar as sombras. Passou um pouco de sombra nos olhos para colori-los e colocou cuidadosamente os cílios postiços sobre os seus próprios, inclinando-os nos cantos externos num ângulo de quarenta e cinco graus. Passou um pouco de adesivo Duo na face externa de seus cílios naturais e ligou-os aos postiços, fazendo os olhos parecerem maiores. Para aumentar o volume dos cílios, fez pequenos pontinhos na pálpebra inferior. Depois passou batom, pôs pó nos lábios e aplicou uma segunda camada. Passou blush e espalhou pó no rosto, evitando a região em torno dos olhos, onde ele acentuaria as pequenas rugas.

Jill recostou-se na cadeira e estudou o efeito no espelho. Estava linda. Algum dia teria de recorrer ao truque da fita adesiva, mas graças a Deus ainda faltava muito tempo para que isso fosse preciso. Conhecia algumas velhas atrizes que o usavam: prendiam pedacinhos de fita adesiva à pele, logo abaixo da linha de implantação dos cabelos; as fitas prendiam fios que elas amarravam em torno da cabeça e escondiam sob o cabelo. Dessa forma, a pele flácida do rosto ficava repuxada, produzindo um efeito de lifting sem a despesa e a dor da cirurgia. Uma variação do truque servia para disfarçar seios caídos. Um pedaço de fita adesiva preso ao seio e à pele mais firme acima do busto proporcionando uma solução temporária simples para o problema. Os seios de Jill ainda estavam firmes.

Ela terminou de pentear os cabelos negros e sedosos, deu uma última olhada no espelho, consultou o relógio e verificou que teria de se apressar.

Tinha um entrevista marcada para o Toby Temple Show.

25

Eddie Berrigan, diretor de elenco do show de Toby, era um homem casado. Tomara providencias de usar o apartamento de um amigo três vezes por semana; uma das tardes ficava reservado para sua amante e as outras duas para o que ele chamava de "velhos talentos" e "novos talentos".

Jill Castle era um novo talento. Vários amigos haviam dito que ela proporcionava uma fantástica "volta ao mundo" e ele estivera ansioso para experimentá-la. Agora, aparecera um papel num quadro que se prestava perfeitamente para ela: tudo que a personagem tinha a fazer era manter uma aparência sexy, dizer algumas linhas e sair de cena.

Jill fez a leitura para Eddie e ele ficou satisfeito. Não era nenhuma Kate Hepburn, mas o papel não exigia isso.

─ O papel é seu ─ disse ele.

─ Obrigada, Eddie.

─ Aqui está seu script. Os ensaios começam amanhã pela manhã às dez em ponto. Seja pontual e decore suas falas.

─ Claro. ─ Jill esperou.

─ Humm... que acha de nos encontrarmos esta tarde para um café?

Jill assentiu.

─ Um amigo meu tem um apartamento na Argyle, 9513. O Allerton.

─ Sei onde fica ─ disse Jill.

─ Apartamento seis. Às três horas.

Os ensaios correram sem problemas. Seria um bom show. Os talentos da semana incluíam uma espectacular equipe de dança argentina, um famoso grupo de rock-and-roll, um mágico que fazia tudo desaparecer e um cantor de sucesso. O único ausente era Toby Temple. Jill perguntou a Eddie Berrigan o que havia.

─ Ele está doente?

Eddie deu um muxoxo:

─ Doente coisa nenhuma. Os trabalhadores ensaiam enquanto o velho Toby se diverte. No sábado ele aparece para gravar o show e depois some.