─ Você gosta de beisebol? Tenho cadeiras de camarote para assistir ao...
─ Não, não gosto.
─ Nem eu ─ Toby riu. ─ Estava testando você. Ouça, que tal jantar comigo no sábado à noite? Roubei o chefe de cozinha do Maxim's de Paris. Ele...
─ Sinto muito, tenho um compromisso, Sr. Toby ─ não havia a menor nota de interesse na voz dela.
Toby sentiu que segurava o telefone com mais força.
─ Quando é que você está livre?
─ Sou uma moça que trabalha duro. Não saio muito. Mas obrigada pelo convite.
E a linha emudeceu. A cadela batera o telefone, uma puta de uma atrizinha de pontas batera-lhe o telefone! Toby jamais conhecera uma mulher que não fosse capaz de dar um ano de vida para passar uma noite com ele, e essa idiota fodida lhe dera um fora! Estava estourando de raiva e descarregou em todos que o cercavam. Nada estava direito. O script era uma droga, o diretor um idiota, a música horrível e os atores podres. Ordenou que Eddie Berrigan, o diretor de elenco, viesse a seu camarim.
─ Que é que você sabe sobre Jill Castle? ─ perguntou.
─ Nada ─ disse Eddie imediatamente.
Não era bobo. Tal como todo o resto do pessoal do show, sabia exatamente o que estava acontecendo. Fossem quais fossem as consequências, Eddie não tinha a menor intenção de se envolver.
─ Ela anda trepando por aí?
─ Não, senhor ─ disse Eddie com firmeza. ─ Se andasse, eu saberia.
─ Quero que você a investigue ─ ordenou Toby. ─ Descubra se tem namorado, aonde vai, o que faz. Você sabe o que eu quero.
─ Sim, senhor ─ respondeu Eddie gravemente.
Às três horas da manhã seguinte Eddie foi acordado pelo telefone da mesinha de cabeceira.
─ Que foi que você descobriu? ─ perguntou uma voz.
Eddie sentou-se na cama, piscando, tentando acordar.
─ Diabos, que é que...
De súbito compreendeu quem estava ao telefone.
─ Eu verifiquei ─ disse apressadamente. ─ A ficha de saúde dela é limpa.
─ Não lhe pedi a merda do atestado de saúde dela ─ falou Toby irritado. ─ Ela anda trepando com alguém?
─ Não, senhor. Não há ninguém. Conversei com meus amigos por aí; todos gostam de Jill e lhe dão papéis porque ela é boa atriz.
Eddie falava depressa, ansioso por convencer o homem do outro lado da linha. Se Toby Temple viesse a saber que Jill fora para a cama com ele, que o preferia a Toby Temple, Eddie jamais tornaria a trabalhar naquela cidade. De fato falara com seus amigos diretores de elenco e todos se encontravam na mesma posição. Ninguém queria ter Toby Temple como inimigo e assim combinaram uma conspiração de silêncio.
─ Ela não anda com ninguém.
A voz de Toby se acalmou.
─ Entendo. Imagino que seja uma garota meio doida, hein?
─ Acho que sim ─ respondeu Eddie aliviado.
─ Ei! Espero não tê-lo acordado.
─ Não, não, tudo bem, Sr. Temple.
Mas Eddie ficou acordado por muito tempo, imaginando o que poderia acontecer-lhe caso a verdade um dia viesse à luz.
Porque aquela cidade pertencia a Toby Temple.
Toby e Clifton Lawrence estavam almoçando no Hillcrest Country Club, que fora fundado porque poucos clubes de campo elegantes de Los Angeles permitiam a entrada de judeus. Essa política era tão regidamente comprida que Melinda, de dez anos, filha de Groucho Marx, fora expulsa da piscina de um clube ao qual fora levada por uma amiga não judia. Quando Groucho ficou sabendo do fato, telefonou para o gerente do clube e disse:
─ Ouça, minha filha é apenas meio judia. Será que você a deixaria entrar na piscina até a cintura?
Em consequência de incidentes desse tipo, um grupo de judeus ricos apreciadores de golfe, tênis, baralho e "malhação" de anti-semitas se reuniu e fundou um clube próprio, cujos títulos só podiam ser comprados por judeus. O Hillcrest foi construído num belo parque, a poucas milhas do centro de Beverly Hills, e logo se tornou famoso por ter o melhor bufê e as conversas mais interessantes da cidade. Os gentios queriam por força ser admitidos e, num gesto de tolerância, a diretoria determinou que uns poucos não judeus teriam permissão para se filiar ao clube.
Toby sempre se sentava à mesa dos comediantes, onde as inteligências de Hollywood se reuniam para trocar piadas e competir umas com as outras. Mas nesse dia Toby pensava em outras coisas. Levou seu empresário para uma mesa de canto e disse:
─ Preciso de seus conselhos, Clifton.
O pequeno agente levantou os olhos para ele, surpreso. Fazia muito tempo que Toby não lhe pedia conselhos.
─ É claro, meu rapaz.
─ Trata-se daquela moça ─ começou Toby, e imediatamente Clifton entendeu tudo.
Metade da cidade já estava sabendo da história. Era a maior piada do momento em Hollywood; um colunista chegara mesmo a dar a notícia sem citar nomes. Toby lera e comentara: "Quem será o palhaço?" O grande amante estava amarrado a uma garota que lhe dera um fora. Só havia uma maneira de abordar essa situação.
─ Jill Castle ─ disse Toby. ─ Lembra-se dela? Aquela garota que participou do show.
─ Ah, sim, uma moça muito atraente. Qual é o problema?
─ Não tenho a menor idéia ─ admitiu Toby. ─ É como se ela tivesse alguma coisa contra mim. Cada vez que a convido para um programa, levo um fora. Faz com que me sinta um lixo qualquer de Iowa.
Clifton arriscou:
─ Por que não pára de convidá-la?
─ Aí é que entra a parte mais louca, meu chapa. Não consigo. Aqui entre nós e o meu pau, nunca na vida desejei tanto uma garota. Está ficando de um jeito que não consigo pensar em outra coisa.
Sorriu embaraçado, e acrescentou:
─ Eu lhe disse que era loucura. Você tem experiência, Clifton. Que devo fazer?
Por um temerário momento Clifton sentiu-se tentado a dizer a verdade. Mas não podia contar a Toby que a garota com quem ele sonhava trepava pela cidade com qualquer assistente de direção de elenco que lhe proporcionasse um dia de trabalho. Não, se quisesse conservar Toby como cliente.
─ Tenho uma idéia ─ sugeriu. ─ Ela encara a carreira com seriedade?
─ Encara. É ambiciosa.
─ Muito bem; nesse caso faça-lhe um convite que ela tenha de aceitar.
─ Que quer dizer?
─ Dê uma festa em sua casa.
─ Mas acabei de lhe dizer que ela simplesmente não...
─ Deixe-me terminar. Convide chefes de estúdio, produtores, diretores, gente que de algum modo poderia ajudá-la. Se ela está mesmo interessada em se tornar uma atriz, morrerá de vontade de conhecer todos eles.
Toby discou o número de Jill.
─ Alô, Jill?
─ Quem fala? ─ perguntou ela.
O país inteiro conhecia sua voz e ela perguntava quem estava falando.
─ Toby. Toby Temple.
─ Oh! ─ foi um som que poderia significar qualquer coisa.
─ Ouça, vou dar uma pequena festa em minha casa na quarta-feira e... ─ ouviu-a começar a recusar e se apressou: ─ estou convidando Sam Winters, chefe da Pan-Pacific, e alguns outros chefes de estúdio, além de uns produtores e diretores. Pensei que talvez fosse bom para você conhecê-los. Poderia ir?
Houve uma pausa mínima e Jill Castle falou:
─ Quarta-feira à noite. Sim, posso ir. Obrigada, Toby.
E nenhum dos dois sabia que se tratava de um "encontro em Samarra".
No terraço uma orquestra tocava, enquanto garçons de libré faziam circular bandejas de hors d'oeuvres e taças de champanha.
Quando Jill chegou, com quarenta e cinco minutos de atraso, Toby correu nervosamente até a porta para cumprimentá-la. Usava um vestido simples de seda branca e o cabelo negro batia-lhe suavemente nos ombros. Estava deslumbrante. Toby não conseguia tirar os olhos dela. Jill sabia que estava maravilhosa; tinha lavado o cabelo e penteara-se com cuidado, além de gastar um tempo enorme com a maquilagem.