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─ Olhe, querida, não se preocupe com isso. Winters não sabe o que está falando ─ dizia Toby.

Mas acontece que Winters sabia. Ela jamais conseguiria. Toda a agonia, a dor e a esperança havia sido em vão. Era como se sua mãe estivesse com a razão: um Deus vingativo parecia estar punindo-a por algo que ela desconhecia. Podia ouvir a voz do pregador gritando: "Vêem aquela menina? Ela arderá no inferno por seus pecados se não entregar a alma a Deus e pedir perdão". Chegara a Hollywood com amor e sonhos, mas a cidade a degradara.

Foi tomada por um insuportável sentimento de tristeza e só percebeu que estava soluçando quando sentiu o braço de Toby a enlaçá-la.

─ Calma, está tudo bem ─ disse ele, e seu carinho a fez chorar mais ainda.

Ficou parada nos braços de Toby e contou-lhe sobre o pai, que morrera na hora do seu nascimento, sobre a taça de ouro, sobre os Holy Rollers, as dores de cabeça e as noites cheias de terror, enquanto ela esperava que Deus lhe enviasse a morte. Contou sobre os cansativos e deprimentes empregos que tivera de aceitar para conseguir tornar-se atriz, sobre a série de fracassos. Algum instinto profundamente enraizado impediu-a de mencionar os homens de sua vida. Embora tivesse começado fazendo um jogo com Toby, agora já não podia mais fingir. Foi nesse momento de total vulnerabilidade que ela o alcançou: tocou numa profunda fibra de seu ser, jamais antes atingida por ninguém.

Ele pegou o lenço no bolso e secou-lhe as lágrimas.

─ Ei, se acha que sua vida foi dura ─ falou, ─ escute só isso. Meu velho era açougueiro e...

Conversaram até as três da manhã. Pela primeira vez na vida, Toby conversou com uma garota como ser humano. Ele a compreendia, como não compreender, se era ele próprio?

Nenhum dos dois jamais soube quem deu o primeiro passo. O que começara como um conforto suave e cheio de compreensão transformou-se lentamente num desejo sensual, primitivo. Beijaram-se com sofreguidão, Toby abraçava-a fortemente. Jill sentiu a pressão do membro contra seu corpo. Precisava dele e ele se despia, ela o ajudava e de repente lá estava ele nu a seu lado, na escuridão, e havia uma sensação de avidez nos dois. Deitaram-se no chão. Toby a penetrou e Jill soltou um gemido ao sentir o tamanho do membro dele; ele começou a se afastar e ela o puxou para mais perto de si, segurando-o tenazmente. Então ele começou a fazer amor com ela, penetrando-a, completando-a, fazendo de seu corpo um todo. Foi delicado e cheio de amor a princípio, tornando-se depois desenfreado e exigente. Foi um êxtase, um arrebatamento insuportável, um acasalamento animal, inconsciente, e Jill gritava: "Ame-me, Toby! Ame-me, ame-me!" Seu corpo vibrante estava sobre ela, dentro dela, era parte dela, e os dois se transformaram numa só pessoa.

Amaram-se a noite inteira e conversaram e riram e foi como se sempre houvessem pertencido um ao outro.

Se Toby pensava, antes, que gostava de Jill, agora estava absolutamente louco por ela. Deitaram-se na cama e ele a abraçou, protegendo-a, enquanto pensava, admirado: "É isso que é amor". Virou-se para olhá-la: Jill parecia cálida, desarrumada e surpreendentemente bonita. Toby jamais amara alguém tanto assim e disse:

─ Quero me casar com você.

Era a coisa mais natural do mundo. Ela o abraçou com força e respondeu:

─ Oh, sim, Toby!

Amava-o e ia casar-se com ele.

E foi somente horas depois que Jill se lembrou do porquê de tudo isso. Ela havia desejado o poder de Toby. Quisera dar a retribuição a todos que a haviam usado, ferido, degradado. Queria vingança.

E agora a teria.

27

Clifton Lawrence estava numa encrenca. De certa forma, supunha, era sua culpa ter deixado que as coisas chegassem a esse ponto. Estava sentado no bar com Toby e ele lhe dizia:

─ Pedi-a em casamento esta manhã, Clifton, e ela aceitou. Sinto-me como um garoto de dezesseis anos.

Clifton tentou impedir que seu rosto traísse o choque. Teria de ser extremamente cuidadoso na maneira de enfrentar o assunto. De uma coisa estava certo: não podia deixar a vagabundazinha se casar com Toby Temple. No momento em que o casamento fosse anunciado, todos os machões de Hollywood viriam à luz para proclamar que já tinha provado a sua parte. Era um milagre que Toby ainda não tivesse descoberto a verdade sobre Jill, mas isso teria de acontecer um dia. Quando ficasse sabendo, mataria alguém. Descarregaria sua raiva sobre todo o mundo à sua volta, todos que tinham deixado que tal coisa acontecesse, e Clifton Lawrence seria o primeiro a sentir o ímpeto de sua ira. Não, não podia deixar esse casamento acontecer. Sentiu-se tentado a frisar que Toby era vinte anos mais velho que Jill, mas controlou-se; olhou para ele e falou cautelosamente:

─ Talvez seja um erro apressar as coisas. Leva-se muito tempo para se conhecer realmente uma pessoa. É possível que você mude de...

─ Você será meu padrinho ─ disse Toby, sem ligar para o comentário. ─ Acha que devemos nos casar aqui ou em Las Vegas?

Clifton sabia que estava perdendo tempo. Só havia um meio de impedir o desastre: tinha de achar um jeito de deter Jill.

Na mesma tarde, telefonou para Jill e pediu-lhe que viesse a seu escritório. Ela chegou com uma hora de atraso, deu-lhe um beijo no rosto, sentou-se na ponta do sofá e disse:

─ Não disponho de muito tempo, vou me encontrar com Toby.

─ Não demorará muito.

Clifton estudou-a. Era uma Jill diferente. Quase não tinha nenhuma semelhança com a moça que ele encontrara pela primeira vez há alguns meses. Agora, parecia dona de uma confiança, de uma segurança que antes não possuía. Bem, não era a primeira vez que Clifton lidava com garotas dessa espécie.

─ Jill, vou ser bem claro. Você é prejudicial para Toby. Quero que saia de Hollywood.

Tirou um envelope branco de uma gaveta.

─ Aqui estão cinco mil dólares em dinheiro. É o suficiente para levá-la a qualquer lugar.

Ela ficou olhando-o por um momento com uma expressão de surpresa; depois recostou-se no sofá e começou a rir.

─ Não estou brincando ─ disse Clifton Lawrence. ─ Acha que Toby se casaria com você se descobrisse que você já foi para a cama com Hollywood inteira?

Jill encarou Clifton por um longo momento. Queria dizer-lhe que era ele o responsável por tudo que lhe acontecera, ele e os outros donos do poder que se haviam recusado a lhe dar uma chance. Eles a fizeram pagar com o corpo, o amor-próprio, a alma. Mas Jill sabia que seria impossível fazê-lo compreender. Clifton estava blefando; não ousaria contar a Toby sobre ela, seria sua palavra contra a dela.

Levantou-se e saiu do escritório.

Uma hora mais tarde Clifton recebeu uma chamada de Toby. Nunca o vira tão excitado.

─ Não sei o que você disse a Jill, meu chapa, mas tenho de lhe contar: ela não quer esperar. Estamos a caminho de Las Vegas para nos casarmos!

O Lear estava a trinta e cinco milhas do Aeroporto Internacional de Los Angeles, voando a duzentos e cinquenta nós. David Kenyon fez contato com o controle de pouso LAX e deu sua posição.

Estava eufórico, ia ao encontro de Jill.

Cissy se recuperara da maioria dos ferimentos sofridos no acidente, mas seu rosto fora severamente atingido. David a mandara ao maior cirurgião plástico do mundo, um médico brasileiro. Ela partira há seis semanas e nesse meio tempo mandara-lhe notícias entusiasmadas sobre o médico.

Vinte e quatro horas antes, David recebera um telefonema de Cissy, dizendo que não voltaria. Estava apaixonada.

David não podia acreditar em sua sorte.

─ Isso é... é maravilhoso ─ gaguejou. ─ Espero que você e o doutor sejam felizes.

─ Oh, não é o doutor ─ replicou Cissy. ─ É o dono de uma pequena plantação. Ele se parece demais com você, David. A única diferença é que me ama.