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Durante o percurso silencioso até casa, ao lado da mãe, Toby ficou sentado em silêncio, se sentindo infeliz, sabendo o quanto a havia ferido. Agora ia ter que arranjar um emprego para sustentar Eileen e a criança. Provavelmente ia ter que trabalhar no açougue e esquecer seus sonhos, todos os seus planos para o futuro. Quando chegaram em casa sua mãe lhe disse:

─ Venha até aqui em cima.

Toby a seguiu até o quarto, preparando-se para um sermão. Enquanto observava, ela tirou uma mala e começou a arrumar as suas roupas. Toby olhou para ela, intrigado.

─ Que é que está fazendo, mamãe?

─ Eu? Eu não estou fazendo nada. Você está. Você vai embora daqui.

Parou-se e virou-se para encará-lo.

─ Você acha que eu ia deixar você jogar sua vida fora com aquela garota insignificante? Então você a leva para a cama e ela vai ter um bebê. Isso prova duas coisas: que você é humano e que ela é burra! Oh, não... ninguém vai apanhar o meu filho numa armadilha e casá-lo à força. Deus criou você para que se tornasse um grande homem, Toby. Você irá para Nova York, e quando for um astro famoso, mandará buscar-me.

Ele piscou para conter as lágrimas e atirou-se nos braços dela, que o embalou no seu busto enorme. Toby de repente sentiu-se perdido e assustado com a idéia de deixá-la. E no entanto havia uma nova animação no seu íntimo, a euforia de começar uma nova vida. Ele ia fazer parte do Mundo dos Espetáculos. Ia ser um astro, ia ser famoso.

Sua mãe o dissera.

2

Em 1939, a cidade de Nova York era a meca do teatro. A Depressão havia acabado. O Presidente Franklin Roosevelt havia garantido que não existia nada a temer exceto o próprio medo, que a América seria a nação mais próspera da terra, e assim foi. Todo mundo tinha dinheiro para gastar. Havia trinta shows em cartaz na Broadway, e todos pareciam ser de grande sucesso.

Toby chegou a Nova York com os cem dólares que sua mãe lhe havia dado. Sabia que ia ser rico e famoso. Mandaria buscá-la, viveriam num lindo apartamento de cobertura e ela iria ao teatro todas as noites para ver a platéia aplaudi-lo. Nesse ínterim, tinha que arrumar um emprego. Foi para as portas dos camarins de diretores de todos os teatros da Broadway, e lhes falou sobre os concursos amadores que tinha vencido e sobre como era talentoso. Eles o puseram para fora. Durante as semanas em que procurou emprego, ele se esgueirou por teatros e clubes e viu os maiores atores em cena, especialmente os comediantes. Viu Ben Blue, Joe E. Lewis e Frank Fay. Toby sabia que um dia seria o melhor do que todos eles.

Como seu dinheiro estava acabando, aceitou um emprego de lavador de pratos. Telefonava para a mãe todos os domingos de manhã, quando a tarifa era reduzida. Ela contou a Toby o furor que sua fuga havia provocado.

─ Você precisava vê-los ─ disse a mãe. ─ O policial vem até aqui no carro oficial todas as noites. Pela maneira como ele age, parece até que nós somos todos gângsteres. Sempre perguntando onde é que você está.

─ E o que é que diz a ele? ─ perguntou Toby com ansiedade.

─ A verdade. Que você escapuliu como um ladrão durante a noite, e que se algum dia eu puser a mão em você faço questão de lhe torcer o pescoço pessoalmente.

Toby riu alto.

Durante o verão, Toby conseguiu arranjar emprego como assistente de mágico, um charlatão de olhos remelentos, sem nenhum talento, que se apresentava sob o nome de Grande Merlin. Eles se exibiam numa série de hotéis de segunda categoria nas Catskills, e a principal tarefa de Toby era carregar a pesada parafernália para dentro e para fora da camioneta de Merlin, e tomar conta dos "acessórios", que consistiam em seis coelhos, três canários e dois hamsters. Por causa dos temores de Merlin de que os animais "fossem comidos", Toby era forçado a viver com eles em quartinhos do tamanho de armários de vassouras, ficando com a impressão de que o verão inteiro não passara de um fedor insuportável. Estava em completa exaustão física de tanto carregar os pesados caixotes com lados e fundos falsos e de correr atrás dos animais, que constantemente fugiam. Sentia-se sozinho e desapontado. Ficava sentado olhando para os quartinhos, perguntando-se o que estaria fazendo ali e como aquilo o levaria a começar sua carreira no mundo dos espetáculos. Praticava suas imitações diante do espelho, e sua audiência era os animais fedorentos de Merlin.

Um domingo, quando o verão estava chegando ao fim, Toby deu o seu telefonema semanal para casa. Daquela vez foi seu pai quem atendeu.

─ É Toby, papai. Como é que você vai?

Houve um silêncio.

─ Alô? Você está aí?

─ Estou aqui, Toby.

Alguma coisa na voz do pai o gelou.

─ Onde está mamãe?

─ Eles a levaram para o hospital ontem à noite.

Toby agarrou o telefone com tanta força que ele quase quebrou.

─ Que aconteceu com ela?

─ O médico disse que foi um ataque do coração.

Não! Não a sua mãe!

─ Ela vai ficar boa, não vai? ─ estava berrando no bocal. ─ Diga─me que ela vai ficar boa, seu maldito!

De milhares de quilômetros de distância podia ouvir o pai chorando.

─ Ela... ela morreu há algumas horas, meu filho.

As palavras envolveram Toby como uma onda de lava incandescente, queimando, escaldando, até que seu corpo parecesse estar em fogo. Seu pai estava mentindo. Ela não podia estar morta. Eles tinham feito um pacto. Toby ia ser famoso e sua mãe ia estar ao seu lado. Havia um lindo apartamento de cobertura esperando por ela, e uma limusine com chofer, e peles e diamantes... Estava soluçando tão violentamente que não conseguia respirar. Ouviu uma voz distante dizendo:

─ Toby!

─ Estou a caminho de casa. Quando é o enterro?

─ Amanhã ─ disse o pai. ─ Mas você não deve vir aqui. Eles estão esperando por você, Toby. Eileen está a ter o bebê por estes dias. O pai dela quer matar você. Vão procurar por você no enterro.

Assim, não poderia nem ao menos dizer adeus à única pessoa no mundo que amava. Toby ficou deitado na cama durante aquele dia inteiro, lembrando. As imagens de sua mãe eram vívidas e vivas. Ela estava na cozinha, cozinhando, dizendo-lhe que homem importante ele ia ser, e na platéia, sentada na primeira fila, gritando: "Mein Himmel! Que menino talentoso!"

E rindo das suas imitações e piadas. E fazendo a mala dele. "Quando você for famoso, mandará buscar-me." Ficou deitado ali, entorpecido pela dor, pensando. "Nunca me esquecerei deste dia. Nunca enquanto eu viver: 14 de agosto de 1939. Este é o dia mais importante da minha vida."

Ele estava certo. Não por causa da morte de sua mãe, mas pelo que estava ocorrendo em Odessa, Texas, a quinze mil milhas de distância.

O hospital era um prédio anônimo de quatro andares, da cor da caridade. O interior parecia um viveiro de coelhos, de cubículos planejados para diagnosticar doenças, aliviá-las, curá-las ou às vezes encobri-las. Era um supermercado médico, e ali havia sempre alguma coisa para todo mundo.

Eram quatro horas da manhã, a hora da morte silenciosa ou do bom sono. O momento para o pessoal do hospital ter um intervalo de repouso antes de se preparar para as batalhas de um novo dia.

A equipe de obstetrícia na sala de operações 4 estava em apuros. O que havia começado como um parto normal de repente se transformara numa emergência. Até o momento do parto propriamente dito da Sra. Karl Czinski, tudo correra normalmente. A Sra. Czinski era uma mulher saudável, no auge da forma, com quadris largos de camponesa que eram o sonho de um obstetra. As contrações aceleradas haviam começado e as coisas estavam progredindo de acordo com o quadro habitual.