O som do rádio interrompeu-lhe os pensamentos. "Lear 3 Alfa Papa, aqui fala o controle de pouso de Los Angeles. Tem permissão para aterrissar na pista 25 da esquerda. Quando pousar, por favor, desloque-se para a rampa à sua direita."
─ Entendido.
David começou a descer e seu coração disparou. Estava prestes a encontrar Jill, a dizer-lhe que ainda a amava, a pedi-la em casamento.
Ao atravessar o terminal, passou por uma banca de jornais e viu a manchete: "TOBY TEMPLE CASA-SE COM ATRIZ". Leu a notícia duas vezes e foi para o bar do aeroporto.
Ficou bêbado durante três dias e depois voou de volta para o Texas.
28
Foi uma lua-de-mel fantástica, Toby e Jill voaram num jato particular para Las Hadas, onde se hospedaram com os Potiño em sua estância encantada, incrustada entre a selva e a praia mexicana. Os recém-casados ficaram numa villa afastada, cercada de cactos, hibiscos e buganvílias de cores brilhantes, onde aves exóticas cantavam a noite inteira. Passaram dez dias entre passeios, iates e festas. Tiveram jantares deliciosos no Legazpi, preparados por grandes chefs especializados, e nadaram em piscinas naturais. Jill fez compras nas sofisticadas butiques de Plaza.
Do México voaram para Biarritz, onde ficaram no Hotel du Palais, a espetacular casa que Napoleão III construiu para a Imperatriz Eugénia. O casal em lua-de-mel jogou nos cassinos, assistiu a touradas e fez amor noites inteiras.
Da costa basca voaram para Gstaad, a mil e duzentos metros acima do nível do mar, nos Alpes Suíços. Voaram entre os picos das montanhas para apreciar a vista, passando sobre o Mont Blanc e o Matterhorn. Esquiaram pelas estonteantes encostas brancas, andaram de trenó puxado por cães, degustaram fondues em várias festas e dançaram. Toby nunca fora tão feliz. Achara a mulher que tornava sua vida completa. Já não estava mais solitário.
Por ele, a lua-de-mel duraria para sempre, mas Jill estava ansiosa por voltar. Não tinha qualquer interesse por aqueles lugares nem por aquelas pessoas. Sentia-se como uma rainha recentemente coroada que tivesse sido afastada de seu país. Jill Castle mal podia voltar a Hollywood.
A Sra. Toby Temple tinha contas a acertar.
LIVRO
TERCEIRO
29
É possível sentir o cheiro do fracasso: adere como um miasma. Tal como os cães detectam o odor do medo numa pessoa, pode-se sentir quando um homem começa a cair.
Sobretudo em Hollywood.
Todo mundo no Negócio sabia que Clifton Lawrence estava acabado antes mesmo de ele próprio perceber. Podia-se sentir o cheiro no ar à sua volta.
Clifton não tivera qualquer notícia de Toby ou Jill na semana que se passara desde a volta do casal da lua-de-mel. Ele mandara um presente caro e três recados telefônicos, que não foram respondidos. De algum modo, Jill conseguira por Toby contra ele. Clifton sabia que precisava conseguir uma trégua. Ele e Toby significavam demais um para outro, não podiam deixar que alguém se intrometesse.
Clifton foi até a casa deles numa manhã em que sabia que Toby estava no estúdio. Jill viu-o chegar e abriu a porta para ele. Estava maravilhosa e Cliftn lhe disse isso. Ela foi amável. Sentaram-se no jardim e tomaram café, Jill contou-lhe sobre a lua-de-mel e os lugares que visitara.
─ Sinto muito por Toby não ter respondido a seus telefonemas, Clifton. Você não imagina como ele tem andado atarefado por aqui.
Ele sorriu, desculpando-se, e ele compreendeu que se enganara. Jill não era sua inimiga.
─ Gostaria de começar tudo de novo: vamos ser amigos.
─ Concordo, Clifton. Obrigada.
Clifton teve uma imensa sensação de alívio.
─ Quero dar uma festa para você e Toby. Alugarei o salão privado do Bistro, no próximo sábado. Black─tie. Cem convidados, seus amigos mais íntimos. Que acha?
─ Ótimo. Toby ficará satisfeito.
Jill esperou até a tarde do dia da festa para telefonar.
─ Sinto muito, Clifton. Receio não poder ir esta noite. Estou um pouco cansada. Toby acha que devo ficar em casa e descansar.
Clifton deu um jeito de esconder o que sentia.
─ Lamento, Jill, mas compreendo. Toby virá, não?
Ouviu seu suspiro do outro lado:
─ Receio que não, meu caro. Ele não vai a lugar nenhum sem mim. Mas espero que a festa corra bem. ─ E desligou.
Era tarde demais para cancelar a festa. A conta foi de três mil dólares, mas custou bem mais do que isso a Clifton. Seus convidados de honra lhe deram um fora, seu único cliente, e todo o mundo, chefes de estúdios, estrelas, diretores, todo o mundo importante de Hollywood percebeu isso. Clifton tentou disfarçar dizendo que Toby não estava passando bem. Foi a pior coisa que poderia ter dito. Ao pegar um exemplar do Herald Examiner na tarde seguinte, deu com a foto do Sr. e Sra. Toby Temple tirada no Estádio Dodgers, na noite anterior.
Clifton Lawrence sabia agora que lutava por sua própria vida. Se Toby o abandonasse, não haveria ninguém para lhe dar a mão. Nenhuma das grandes agências o admitiria porque ele não lhes poderia trazer clientes importantes; e Clifton não tolerava a idéia de começar tudo de novo sozinho. Era tarde demais para isso. Tinha de achar um meio de conseguir a paz com Jill. Telefonou para ela e disse que gostaria de visitá-la.
─ É claro. ─ disse ela. ─ Eu disse a Toby ontem à noite que não temos visto você ultimamente.
─ Chego aí dentro de quinze minutos ─ falou Clifton.
Foi até o bar e preparou um uísque duplo. Isso vinha acontecendo com frequência nos últimos tempos. Era um mau hábito beber durante o dia de trabalho, mas a quem estava enganando? Que trabalho? Recebia diariamente ofertas importantes para Toby, mas não conseguia fazer com que o grande homem sentasse para discuti-las com ele. Antigamente, costumavam conversar sobre tudo. Recordou os bons tempos do passado, as viagens que haviam feito, as festas, os risos, as garotas. Os dois eram unidos como irmãos gémeos. Toby precisara dele, contara com ele. E agora... Clifton preparou mais um drinque e ficou satisfeito ao constatar que suas mãos já não estavam tremendo tanto.
Quando Clifton chegou à casa dos Temple, encontrou Jill no terraço tomando café. Ela ergueu os olhos e sorriu ao vê-lo aproximar-se. "Você é um vendedor", ele disse para si mesmo. "Convença-a."
─ É bom ver você, Clifton. Sente-se.
─ Obrigado, Jill.
Sentou-se diante dela, do outro lado de uma grande mesa de ferro forjado, e examinou-a. Jill usava um vestido branco de verão e o contraste entre ele e o cabelo negro e a pele dourada, queimada de sol, era fabuloso. Ela parecia mais jovem e, única palavra que ocorreu a Clifton, inocente. Observava-o com um olhar afetuoso e amável.
─ Quer tomar café, Clifton?
─ Não, obrigado. Já tomei.
─ Toby não está.
─ Eu sei. Queria conversar com você a sós.
─ Que posso fazer por você?
─ Aceitar meu pedido de desculpas ─ disse ele apressadamente.
Jamais implorara nada a ninguém em sua vida; seria a primeira vez.
─ Nós... eu comecei com o pé esquerdo. Talvez tenha sido culpa minha, provavelmente foi. Toby tem sido meu cliente e amigo por tanto tempo que eu... eu queria protegê-lo. Você compreende?
─ Claro, Clifton ─ disse Jill, com os olhos castanhos fixos nele.
Ele respirou fundo.
─ Não sei se ele lhe contou a história, mas fui eu que lancei Toby. Soube que se tornaria um grande astro desde a primeira vez que o vi.
Percebeu que Jill estava prestando o máximo de atenção.
─ Naquela época, eu cuidava de uma porção de clientes. Desfiz-me de todos para poder concentrar-me na carreira dele.