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─ Parto invertido ─ anunciou o Dr. Wilson, o obstetra.

As palavras não causaram alarme. Embora apenas três por cento dos nascimento sejam por parto invertido, quando a parte inferior da criança emerge primeiro, eles normalmente são realizados com facilidade. Há três tipos de partos invertidos: o espontâneo, no qual não é necessária nenhuma ajuda; o assistido, no qual o obstetra ajuda a natureza; e o breakup completo, quando o bebê está preso no útero da mãe.

O Dr. Wilson notou com satisfação que aquele ia ser um parto espontâneo, o tipo mais simples. Observou os pés do bebê emergirem, seguidos por duas perninhas. Houve uma outra contração da mãe, e as coxas do bebê apareceram.

─ Está quase acabado ─ disse o Dr. Wilson num tom encorajador. ─ Contraia e faça força para baixo mais uma vez.

A Sra. Czinski o fez. Nada aconteceu.

Ela franziu o cenho.

─ Tente de novo. Com mais força.

Nada.

O Dr. Wilson pôs as mãos na perna do bebê e puxou, com muita suavidade. Não houve nenhum movimento. Enfiou as mãos além do bebê, através da passagem estreita para o interior do útero, e começou a fazer uma exploração. Gotas de suor surgiam na sua testa. A enfermeira da maternidade se moveu mais para perto dele e enxugou-a.

─ Temos um problema ─ disse o Dr. Wilson, numa voz sumida.

A Sra. Czinski ouviu e perguntou;

─ Que é que está errado?

─ Está tudo bem.

O Dr. Wilson enfiou a mão mais fundo, tentando puxar o bebê mais para baixo, delicadamente. Não se mova. Podia sentir o cordão umbilical comprimido entre a pélvis da mãe e o corpo do bebê, cortando-lhe o fornecimento de ar.

─ Fetoscópio!

A enfermeira da maternidade apanhou o instrumento e aplicou-o à barriga da mãe, tentando ouvir o bater do coração do bebê.

─ Está reduzido a trinta ─ comunicou. ─ E há uma arritmia acentuada.

Os dedos do Dr. Wilson estavam no interior do corpo da mãe, como antenas distantes do seu cérebro, explorando, procurando.

─ Estou perdendo a batida do coração do bebê... ─ havia preocupação na voz da enfermeira da maternidade. ─ Está negativo!

Tinham um bebê morrendo dentro do útero. Ainda havia uma frágil possibilidade de que o bebê pudesse ser salvo se conseguissem tirá-lo a tempo. Tinham um máximo de quatro minutos para libertá-lo, desobstruir os pulmões e fazer com que o pequeno coração começasse a bater de novo. Depois de quatro minutos, a lesão cerebral seria total ou irreversível.

─ Cronometre ─ ordenou o Dr. Wilson.

Todo mundo na sala instintivamente olhou para cima quando o relógio elétrico na parede bateu doze horas, e o grande ponteiro vermelho dos segundos começou a marcar o seu primeiro giro.

A equipe de parto começou a trabalhar. Um balão de respiração de emergência foi levado até a mesa de operações, enquanto o Dr. Wilson tentava libertar a criança da região pélvica. Começou a fazer a manobra Bracht, tentando virar a criança ao contrário, torcendo-lhe os ombros de maneira que pudessem desobstruir o orifício vaginal. Foi inútil.

Uma estudante de enfermagem, assistindo ao primeiro parto, sentiu-se enjoada e saiu da sala apressadamente.

Na porta da sala de operações estava Karl Czinski, retorcendo o chapéu nervosamente nas grandes mãos calejadas. Aquele era o dia mais feliz da sua vida. Era carpinteiro, um homem simples que acreditava em casar cedo e ter família numerosa. Aquela criança seria a primeira, e era tudo que ele podia fazer para conter a sua excitação. Amava a esposa apaixonadamente, e sabia que sem ela estaria perdido. Estava pensando na mulher quando a estudante de enfermagem saiu apressadamente da sala de parto, e ele lhe perguntou:

─ Como é que ela está?

A jovem enfermeira, aflita, a mente preocupada com o bebê, exclamou:

─ Ela está morta, ela está morta! ─ e saiu correndo para vomitar.

O rosto do Sr. Czinski ficou branco. Apertou o peito e começou a arquejar, lutando para respirar. Quando finalmente o levaram para a sala de emergência, já não havia mais nada a fazer.

Na sala de parto, o Dr. Wilson trabalhava freneticamente lutando contra o relógio. Podia enfiar a mão e tocar o cordão umbilical, sentindo a pressão que havia contra ele, mas não havia jeito de libertá-lo. Todos os impulsos íntimos gritavam para que puxasse a criança para fora à força, mas ele já tinha visto o que acontecia com bebê que nasciam daquela maneira. Agora a Sra. Czinski estava gemendo, semidelirante.

─ Contraia e força para baixo, Sra. Czinski. Mais força! Vamos!

Não adiantava. O Dr. Wilson olhou para o relógio. Dois minutos preciosos se haviam passado sem que nenhum sangue circulasse através do cérebro do bebê. O Dr. Wilson enfrentava um outro problema: o que iria fazer se o bebê fosse salvo depois que os quatro minutos se tivessem passado? Deixá-lo viver e se tornar um vegetal? Ou deixá-lo ter uma morte rápida e misericordiosa? Afastou o pensamento da mente e começou a agir mais depressa. Fechando os olhos, trabalhou através do tato, com toda a sua concentração focalizada no que estava acontecendo no interior do corpo da mulher. Resolveu tentar a manobra Mauriceau-Smellie-Veit, uma série complicada de movimentos com o objetivo de ir soltando o corpo do bebê até libertá-lo. E de repente houve um deslocamento. Ele o sentiu começar a se mover.

─ Fórceps de fole!

A instrumentadora passou-lhe rapidamente o fórceps especial e o Dr. Wilson introduziu-o, colocando-o em volta da cabeça do bebê.

Um momento depois a cabeça emergiu.

O bebê tinha nascido.

Aquele era sempre o momento de glória, o milagre de uma vida recém-nascida, o rosto vermelho do bebê chorando alto, reclamando da indignidade de ter sido forçado a sair daquele útero tranquilo e escuro para a luz e o frio.

Mas não aquele bebê. Aquele bebê tinha uma cor branco-azulada e estava imóvel. Era do sexo feminino.

O relógio. Ainda restava um minuto e meio. Agora cada movimento era rápido e mecânico, o resultado de longos anos de prática. Dedos envoltos em gaze desobstruíram a parte posterior da faringe da criança, para que o ar pudesse passar pelo orifício da laringe. O Dr. Wilson deitou o bebê de costas. A instrumentadora entregou-lhe um laringoscópio bem pequeno, ligado a um aparelho elétrico de sucção. Ele ajustou-o no lugar certo, balançou a cabeça e a enfermeira ligou o interruptor. O som da sucção rítmica da máquina começou.

O Dr. Wilson olhou para o relógio.

Ainda restavam vinte segundos. Ritmo cardíaco negativo.

Quinze... catorze... Ritmo cardíaco negativo.

O momento da decisão havia chegado. Poderia já ser tarde demais para impedir que houvesse lesão cerebral. Ninguém jamais poderia ter certeza absoluta com relação a essas coisas. Ele vira alas inteiras de hospitais cheias daquelas criaturas patéticas com corpo de adulto e mente de criança, ou pior.

Dez segundos. E não havia pulso, nem mesmo um sinal para lhe dar esperança.

Cinco segundos. Então ele tomou a decisão, e esperou que Deus o compreendesse e perdoasse. Ia puxar o pino, dizer que o bebê não podia ser salvo. Ninguém questionava sua atitude. Tocou a pele do bebê mais uma vez. Estava fria e pegajosa.

Três segundos.

Olhou para a criança e teve vontade de chorar. Era uma menina. A menina era um bebê bonito. Teria crescido e se tornado uma mulher bonita. Perguntou-se como sua vida poderia ter sido. Será que se casaria e teria filhos? Ou talvez seria artista, professora, uma mulher de negócios, uma executiva? Será que ela seria rica ou pobre? Feliz ou infeliz?

Um segundo. Ritmo cardíaco negativo.

Zero.

Estendeu a mão em direção ao interruptor, e naquele instante o coração do bebê começou a bater. Foi um espasmo hesitante e irregular, e depois um outro, que em seguida se regularizou numa batida forte e regular. Houve uma exclamação espontânea de alegria e gritos de congratulações na sala. O Dr. Wilson não estava ouvindo.