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─ Você acredita que a mente possa descolar objetos?

─ Refere-se a psicocinese? Há muitas experiências sendo feitas, mas ainda não encontrei nenhuma prova que me convencesse.

Havia a jarra quebrada junto à porta do quarto.

Jill teve vontade de falar ao médico sobre aquilo, sobre o ar

gelado que a seguia, sobre a cadeira de rodas de Toby do outro lado da porta, mas ele iria pensar que estava louca. Estaria? Havia algo de errado com ela? Estaria perdendo a razão?

Quando o Dr. Kaplan se retirou, Jill aproximou-se do espelho e ficou chocada com o que viu. Suas faces estavam encovadas e os olhos enormes, num rosto pálido e ossudo. "Se continuar assim", pensou "morrerei antes de Toby." Examinou o cabelo oleoso e sem vida, as unhas rachadas e quebradas. "Não posso permitir jamais que David me veja assim. Tenho de começar a me cuidar. De agora em diante", disse a si mesma, "você vai passar a ir ao salão de beleza uma vez por semana, vai comer três refeições por dia e dormir oito horas."

Na manhã seguinte, Jill marcou uma hora no salão de beleza. Estava exausta e sob o morno e confortável zumbido do secador acabou cochilando, e o pesadelo começou. Estava dormindo em sua cama. Ouvia Toby entrar no quarto na cadeira de rodas. Crek... crek... Lentamente, ele se levantava da cadeira, ficava de pé e se aproximava dela, o rosto contorcido, as mãos esqueléticas estendidas para o seu pescoço. Jill despertou gritando, apavorada, criando uma enorme confusão no salão de beleza. Acabou por sair às pressas, sem mesmo pentear o cabelo.

Depois dessa experiência, ficou com medo de sair de casa.

E com medo de ficar em casa.

Parecia que havia algo errado com sua mente. Já não se tratava apenas das dores de cabeça. Começara a ter esquecimentos. Descia para apanhar alguma coisa, entrava na cozinha e ficava lá parada, sem saber o que fora buscar. Sua memória começou a lhe pregar estranhas peças. Certa vez, a enfermeira Gordon veio falar com ela e Jill pensou o que uma enfermeira estaria fazendo ali. De repente, lembrou-se: o diretor a esperava no set. Tentou recordar sua fala: "Acho que nada bem, doutor". Tinha de falar com o diretor para saber como queria que lesse a fala. A enfermeira Gordon segurava sua mão e dizia: "Sra. Temple! Sra. Temple! Está se sentindo bem?" E Jill se viu de volta a seu ambiente, mais uma vez no presente, à mercê do terror daquilo que lhe estava acontecendo. Sabia que não podia continuar assim, tinha de descobrir se havia algo errado com sua mente ou se Toby, de algum modo, conseguia mover-se, se descobrira um meio de atacá-la, de tentar matá-la.

Precisava vê-lo. Obrigou-se a percorrer o longo corredor em direção ao quarto de Toby; ficou um momento do lado de fora, reunindo forças, e então entrou.

Toby estava deitado na cama enquanto a enfermeira dava-lhe um banho de esponja. Ela levantou os olhos, viu Jill e disse:

─ Ora, aqui está a Sra. Temple. Estamos tomando um bom banho, não é?

Jill se voltou para olhar a figura na cama.

Os braços e as pernas de Toby haviam definhado, transformando-se em apêndices retorcidos presos ao tórax atrofiado e deformado. Entre suas pernas, como uma comprida e indecente serpente, jazia o pênis inútil, flácido e repulsivo. O tom amarelo desaparecera de suas faces, mas a careta boquiaberta e a expressão de imbecilidade continuavam. O corpo estava morto, mas os olhos permaneciam desesperadamente vivos. Movimentavam-se bruscamente, procurando, planejando, odiando; penetrantes olhos azuis cheios de tramas secretas, de mortal determinação. Era a mente de Toby que Jill via. "É importante lembrar que a mente dele está ilesa", dissera-lhe o médico. A mente podia apenas, sentir, odiar. Aquela mente nada mais tinha a fazer senão planejar sua vingança, elaborar um meio de destruí-la. Toby desejava sua morte, assim como Jill desejava a dele.

Agora, enquanto o olhava, fixando aqueles olhos que luziam de ódio, ela podia ouvi-lo dizer: "Vou matar você", e sentia as ondas de repugnância que a atingiam como golpes.

Jill fixou aqueles olhos, lembrou-se da jarra quebrada e compreendeu que nenhum de seus pesadelos havia sido ilusão. Ele descobrira um meio.

Ficou sabendo então que seria a vida de Toby contra a sua própria.

34

Quando o Dr. Kaplan terminou o exame em Toby, foi falar com Jill.

─ Acho que você deve suspender a terapia na piscina ─ disse ele.

─ É perda de tempo. Eu esperava que conseguíssemos alguma ligeira melhoria na musculatura dele, mas não está adiantando nada. Eu mesma falarei com o terapeuta.

─ Não!

Foi um grito agudo. O médico olhou-a surpreso.

─ Jill, sei o que você fez por Toby da outra vez, mas desta vez é inútil. Eu...

─ Não podemos desistir. Ainda não.

Havia desespero na voz dela. O Dr. Kaplan hesitou e finalmente encolheu os ombros.

─ Bem, se é assim tão importante para você...

─ É.

Naquele momento, era a coisa mais importante do mundo. Era o que salvaria sua vida.

Agora ela sabia o que tinha a fazer.

O dia seguinte era uma sexta-feira. David telefonou para dizer a Jill que teria de viajar até Madrid a negócios.

─ Talvez eu não possa telefonar durante o fim de semana.

─ Sentirei sua falta ─ disse Jill. ─ Sentirei muito.

─ Também terei saudades de você. Você está bem? Parece estranha. Está cansada?

Jill lutava para manter os olhos abertos, para esquecer a terrível dor de cabeça. Não se lembrava da última vez que comera ou dormira. Estava tão fraca que mal podia ficar de pé. Procurou pôr energia na voz:

─ Estou bem, David.

─ Amo você, querida. Cuide-se.

─ Vou me cuidar, David. Amo você. Por favor, lembre-se disso. Aconteça o que acontecer.

Ouviu o carro do fisioterapeuta que chegou e desceu, a cabeça latejando, as pernas tremulas quase incapazes de sustentá-la.

Abriu a porta da frente no momento em que ele ia tocar a campainha.

─ Bom dia, Sra. Temple ─ disse ele, começando a entrar.

Mas Jill barrou-lhe a passagem. Ele a olhou surpreso.

─ O Dr. Kaplan decidiu suspender a terapia de Toby ─ disse ela.

O fisioterapeuta franziu o cenho. Significava que fora até ali inutilmente. Alguém deveria tê-lo avisado antes. Em condições normais teria reclamado, mas a Sra. Temple era uma pessoa admirável, com tantos problemas... Ele sorriu e falou:

─ Está bem, Sra. Temple. Eu compreendo.

E voltou para seu carro.

Jill esperou até ouvir o carro afastar-se. Então começou a subir a escada. A meio caminho foi atingida por mais uma tonteira e teve de se agarrar ao corrimão até sentir-se melhor. Não podia parar agora. Se parasse, morreria.

Foi até a porta do quarto de Toby, girou a maçaneta e entrou. A enfermeira Gallagher estava sentada numa poltrona, bordando.

Levantou os olhos, surpresa ao ver Jill de pé à porta.

─ Ora! ─ disse ela. ─ Temos uma visita. Que bom!

Voltou-se para a cama:

─ Sei que o Sr. Temple ficou satisfeito. Não é mesmo, Sr. Temple?

Toby estava recostado, apoiado em travesseiros, os olhos transmitindo sua mensagem a Jill. "Vou matar você."

Ela desviou o olhar e aproximou-se da enfermeira.

─ Cheguei à conclusão de que não estou passando tempo suficiente com meu marido.

─ Bem, para falar a verdade, é exatamente o que estive pensando ─ respondeu a enfermeira Gallagher asperamente. ─ Mas percebi que a senhora também anda doente e então disse a mim mesma...

─ Estou me sentindo muito melhor agora ─ interrompeu Jill. ─ Gostaria de ficar a sós com o Sr. Temple.

A enfermeira reuniu seus apetrechos de bordado e levantou-se.