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O fisioterapeuta estava no banco das testemunhas.

─ Você costumava fazer uma sessão diária de tratamento com o Sr. Temple?

─ Sim, senhor.

─ Esse tratamento tinha lugar na piscina?

─ Sim, senhor. A piscina era aquecida a uma temperatura de quarenta e sete graus e...

─ Você fez o tratamento do Sr. Temple no dia em questão?

─ Não, senhor.

─ Poderia dizer-nos por quê?

─ Ela me mandou embora.

─ Por "ela" você quer dizer a Sra. Temple?

─ Certo.

─ Ela deu alguma razão?

─ Disse que o Dr. Kaplan não queria que ele continuasse o tratamento.

─ E assim você saiu sem ter visto o Sr Temple?

─ Certo. Isso mesmo.

Chegou a vez do Dr. Kaplan.

─ A Sra. Temple lhe telefonou após o acidente, Dr. Kaplan. O senhor examinou o falecido logo que chegou ao local?

─ Sim. A polícia havia retirado o corpo da piscina. Ainda estava preso à cadeira de rodas. O cirurgião da polícia e eu examinamos o corpo e concluímos que era tarde demais para tentar revivê-lo.

Ambos os pulmões estavam cheios de água. Não pudemos constatar nenhum sinal vital.

─ Que fez o senhor então, Dr. Kaplan?

─ Cuidei da Sra. Temple. Ela estava em estado de histeria aguda. Fiquei muito preocupado com ela.

─ Dr. Kaplan, o senhor tivera uma conversa anterior com a Sra. Temple sobre a suspensão da fisioterapia?

─ Tive. Disse a ela que achava o tratamento uma perda de tempo.

─ Qual foi a reação da Sra. Temple?

O Dr. Kaplan olhou para Jill Temple e disse:

─ A reação dela foi muito estranha. Insistiu para que continuássemos tentando. ─ Hesitou. ─ Já que estou sob juramento e como o júri deste inquérito está interessado em ouvir a verdade, sinto que há algo que tenho a obrigação de dizer.

Um silêncio completo caíra sobre a sala. Jill olhava-o fixamente.

O Dr. Kaplan voltou-se para os jurados.

─ Gostaria de dizer, para os autos, que a Sra. Temple é provavelmente a melhor e mais corajosa mulher que tive a honra de conhecer.

Todos os olhares se voltaram para Jill.

─ Quando seu marido sofreu o primeiro derrame, ninguém achou que houvesse a menor chance de recuperação. Mas ela cuidou dele e curou-o sozinha. Fez por ele o que nenhum médico que conheço poderia ter feito. Eu jamais poderia descrever-lhes sua dedicação e devoção ao marido.

Olhou para Jill e acrescentou:

─ Ela é um exemplo para todos nós.

Os espectadores romperam em aplausos.

─ É só, doutor ─ disse o examinador. ─ Gostaria de chamar a Sra. Temple para depor.

Todos observaram quando Jill se levantou e lentamente caminhou até o banco das testemunhas, onde prestou juramento.

─ Reconheço a provação que este inquérito representa para a senhora, Sra. Temple, e procurarei terminar tudo o mais rápido possível.

─ Obrigada ─ a voz dela soou baixo.

─ Quando o Dr. Kaplan disse que pretendia suspender a fisioterapia, por que é que a senhora quis prossegui-la?

Ela levantou os olhos e o examinador reconheceu a profunda dor neles estampados.

─ Porque eu queria que meu marido tivesse todas as chances possíveis de se recuperar. Toby amava a vida e eu queria trazê-lo de volta a ela. Eu... ─ sua voz hesitou, mas Jill prosseguiu: ─ Eu mesma tinha de ajudá-lo.

─ No dia da morte de seu marido, o fisioterapeuta chegou e a senhora o dispensou.

─ Sim.

─ Contudo, antes, Sra. Temple, a senhora dissera que o tratamento continuasse. Poderia explicar sua atitude?

─ É muito simples. Compreendi que nosso amor era a única coisa suficientemente forte para curar Toby. Já o curara uma vez...

Ela parou, sem condições de prosseguir. Depois, obviamente

controlando-se, continuou numa voz rouca:

─ Eu tinha de fazê-lo ver o quanto o amava, o quanto queria vê-lo recuperado.

Todos os presentes estavam atentos, esforçando-se para não perder uma só palavra.

─ Poderia contar-nos o que aconteceu na manhã do acidente?

Houve um minuto inteiro de silêncio, enquanto Jill reunia as forças para finalmente falar.

─ Entrei no quarto de Toby. Ele parecia feliz por me ver. Disse-lhe que eu mesma o levaria à piscina, que iria curá-lo de novo. Vesti um maiô para poder fazer os exercícios com ele na água. Quando me pus a erguê-lo da cama para a cadeira de rodas, eu... senti-me tonta. Acho que deveria ter compreendido naquele momento que não contava com força física suficiente para o que pretendia fazer. Mas não podia parar. Não, se pretendia ajudá-lo. Coloquei-o na cadeira e falei com ele durante todo o caminho até a piscina. Empurrei-o até a borda...

Ela parou e a sala ficou cheia de um tenso silêncio. O único ruído era o das canetas dos repórteres correndo desesperadamente sobre os blocos de taquigrafia.

─ Abaixei-me para desatar as correias que seguravam Toby à cadeira e me senti tonta de novo e comecei a cair... Acho que soltei o freio acidentalmente. A cadeira começou a rolar para dentro da piscina com... com Toby preso a ela ─ Jill tinha a voz embargada. ─ Pulei na piscina atrás dele e tentei soltá-lo, mas as correias estavam apertadas demais. Tentei tirar a cadeira da água mas estava... estava tão pesada. Estava... pesada... demais.

Ela fechou os olhos por um momento, para esconder sua profunda angústia, depois, quase num sussurro, falou:

─ Tentei ajudar Toby e o matei.

O júri do inquérito levou menos de três minutos para obter um veredito: Toby Temple morrera num acidente.

Clifton Lawrence, sentado no fundo da sala, ouviu o veredito.

Tinha certeza de que Jill o assassinara, mas não havia maneira de prová-lo. Ela escapara.

O caso estava encerrado.

36

Não havia mais lugar para assistir ao funeral. Foi realizado em Forest Lawn, numa ensolarada manhã de agosto, no dia em que Toby Temple deveria iniciar sua nova série de televisão. Havia milhares de pessoas esmagando os belos gramados, tentando enxergar as celebridades que compareceram para prestar suas últimas homenagens. Câmaras de televisão cobriam os serviços fúnebres em tomadas longas e tiravam closes das estrelas, produtores e diretores junto ao túmulo. O presidente dos Estados Unidos enviara um representante. Estavam presentes governadores, chefes de estúdios, presidentes de grandes empresas e representantes de todos os sindicatos a que Toby pertencera: SAG, AFTRA, ASCAP e AGVA. O presidente da filial de Beverly Hills dos Veteranos de Guerra comparecera em uniforme completo. Havia contingentes da polícia e do corpo de bombeiros local.

E a arraia-miúda estava presente. Os coadjuvantes, os extras e os doublés que haviam trabalhado com Toby Temple. As encarregadas do guarda-roupa, os mensageiros, os novatos e os veteranos, os assistentes de direção e outros, todos foram prestar homenagem a um grande americano. Lá estavam O'Hanlon e Rainger, recordando o rapazinho magricela que entrara em seu escritório na Twentieth Century-Fox. "Parece que vocês vão escrever piadas para mim... Ele usa as mãos como se estivesse cortando lenha. Talvez pudéssemos escrever uma cena de lenhador para ele... Ele força demais... Jesus, com aquele material, você não faria o mesmo? Um cômico abre portas engraçadas. Um comediante abre portas engraçado." E Toby Temple trabalhara, aprendera e chegara ao topo. "Era um furão", pensara Rainger. "Mas era o nosso furão."

Clifton Lawrence estava lá. O pequeno agente fora ao barbeiro e mandara passar suas roupas a ferro, mas os olhos o traíram. Eram os olhos de quem fracassara entre seus iguais. Também Clifton estava perdido em recordações. Lembrava-se daquele primeiro e presunçoso telefonema. "Há um jovem cômico que Sam Goldwin quer que você veja..." e o desempenho de Toby na escola. "Não se precisa comer todo o vidro de caviar para saber que é bom, certo?... Decidi aceitá-lo como cliente, Toby... Se você for capaz de pôr os tomadores de cerveja no bolso, o pessoal do champanha virá automaticamente... Posso fazer de você a maior estrela do ramo." Todos haviam querido Toby Temple: os estúdios, as redes de televisão, os night clubs. "Você tem tantos clientes que às vezes acho que não me dá atenção suficiente... É como sexo em grupo, Clifton. Sempre sobra um que fica de pau duro... Preciso de seus conselhos, Clifton... É sobre aquela garota..."